sexta-feira, 15 de março de 2019

A Talha Joanina da lgreja Matriz de Tiradentes (Brasil)





























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Revista Mínia, Braga-Portugal, terceira série, ano 1, n. 1, 1993.

Prata da Casa: ourives e oficinas em Tiradentes


O ofício de ourives desde muito tempo em Portugal se dividiu em ourives do ouro e ourives da prata, embora todos trabalhassem ambos os metais. A tradição da ourivesaria portuguesa vem da idade média, como o atesta as jóias da rainha Santa Isabel (1282/1325) até hoje conservadas em museu de Coimbra- Portugal. Os portugueses que colonizaram o Brasil trouxeram o ofício de ourives principalmente do ourives da prata para os grandes centros como a Bahia e o Rio de Janeiro nos séculos XVII e XVIII, embora outras regiões tenham produzido artefatos de prata, em menor escala como Pernambuco, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás e Pará. O povoamento da região dos Campos de Cataguás, com a descoberta de ouro de aluvião, grupiaras e galerias fez com que grandes levas de artífices portugueses tenham aqui aportado e claro entre eles os ourives, embora logo a coroa portuguesa irá proibir o ofício na Capitania de Minas Gerais, o que não é na verdade seguido a risca. Muitos ourives, principalmente da prata, passaram por, viveram e nasceram em Minas, nos séculos XVIII e XIX. Alguns ourives de ouro mantiveram-se em Sabará, Diamantina e Minas Novas com as joias brasileiríssimas de coco e ouro, até os dias atuais.

A exceção de poucos ourives da prata de que se conhece a obra, como Rodrigo Brum e João de Lana, os ourives da prata mineiros dedicaram-se a peças menores, como cordões, medalhas, pingentes, resplendores, coroas, enquanto as grandes peças: tocheiros, lanternas, custódias, turíbulos, bacias e gomís eram feitos em Lisboa, no Rio de Janeiro e na Bahia.

Normalmente as peças de prataria litúrgicas ou domésticas, assim como as joias, produzidas em Minas não tinham marcas, porque com a proibição do ofício de ourives, não havia o ofício de contraste e consequentemente as marcas de toque, de cidade e do ourives, o que torna extremamente difícil identificar a prataria mineira, quando não há documento de compra ou encomenda da peça. Outro problema é o quase total desaparecimento da prataria doméstica e joias praticamente inexistente até nos museus brasileiros.

Na antiga Vila de São José Del Rei, hoje cidade de Tiradentes, vem dos templos imemoráveis o ofício de ourives do ouro e certamente da prata. A primeira notícia de um profissional, data de 1738, quando Antônio Gonçalves Veloso, português da região de Braga, foi identificado como ourives, como consta nos livros das Devassas Eclesiásticas da Diocese de Mariana. Em 1740 o citado Antônio Gonçalves Veloso executa uma cruz de prata para o altar da Irmandade de São Miguel e Almas da matriz de Santo Antônio, peça hoje desaparecida, e em 1770 “se fizeram estrelas no diadema de Nossa Senhora da Piedade”, diadema hoje exposto no Museu da Liturgia. Ainda no século XVIII aparecem dois nomes de ourives da prata trabalhando para a matriz de Santo Antônio, Manoel Carvalho Ferreira (1730) e Antônio Francisco Cortes (1743), mas ambos vivendo na cidade do Rio de Janeiro. 

Durante o século XIX há notícias de vários ourives citados na documentação da câmara, embora não se conheça suas obras. Em 1818, Miguel Barbosa da Silveira trabalha para a irmandade do Santíssimo Sacramento da igreja matriz de Santo Antônio; em 1831 consta no censo da província seis (6) ourives na Vila de São José. No ano de 1835 vamos encontrar os ourives Alexandre Veloso do Carmo, Antônio José Lopes da Cruz, Inácio José Fulgêncio, Francisco José Jacal, José Vieira Lopes, Francisco de Paula, Joaquim José da Silva, Herculano José das Virgens citados nos alistamentos da guarda nacional e livros das irmandades.  Ainda em 1835aparece o nome de Francisco de Assis Veloso, que se casa em 05 de julho de 1849, com Inácia Olinda, na capela do Bom Jesus da Pobreza. Podemos ainda citar no século XVIII (1799) o casamento Francisco Veloso do Carmo e já no século XIX (1845) citar o nome de José Antônio de Almeida.

No final do século XIX parece que se intensificou a produção de objetos de prata na cidade de Tiradentes, pois vamos encontrar muitos ourives em diversas famílias tiradentinas, como  a de  Antônio de Pádua Falcão (1843-1927), a de José Luiz Ramalho (1840-1900) a de Silvestre Ferreira Barbosa (1820-1904) ou na família dos músicos Carlos Augusto de Brites, Martimiano de Brites e Manoel de Brites.

No início do século XX praticamente todas as casas da cidade de Tiradentes tinham, uma pequena “tenda” ou oficina no fundo do quintal ou um cômodo detrás da casa. Seria impossível de citar todos os ourives que trabalharam no século XX em Tiradentes, inclusive as mulheres que “teciam cordões” e limavam as medalhas, cabos e bainhas de facas e outros objetos. Alguns homens mais abastados que montaram “oficinas” como a de Joaquim Ramalho, no porão do sobrado Ramalho (hoje galeria) ou a do meu bisavô Galdino Rocha que construiu um pequeno prédio ao lado de sua casa na rua Direita, hoje número 07, para instalar a oficina em 1921, com direito a monograma na fachada e papel timbrado. Famílias inteiras dedicaram-se ao ofício como a de José Amaro Conceição, cujo filho Vicente Cambota e os netos José Geraldo, Geraldo Conceição (Mitula) e Eros Miguel Conceição foram exímios artesãos. Francisco Cândido Barbosa, morador do Largo do Chafariz, passou o ofício para seus filhos Francisco Barbosa Junior, o Chiquinho do Correio e Cid Barbosa, além dos netos Nilson e Nilberto. Outras muitas famílias poderiam ser citadas como os Dâmaso, como Francisco de Paula Ferreira (Chico Dâmaso) e Vicente Ferreira (Dâmaso), cujos filhos Antônio e José foram ótimos profissionais.

O que se fazia na primeira metade do século XX

A produção principal do fim do século XIX, até os anos 1940-1950 era de cordões para medalhas, medalhas de santos, do Divino Espírito Santo, bainhas de facas, cabos de faca, com figura de mulher, rosários, terços, corrente para relógios, cabo de garfos e eventualmente peças grandes como castiçais e lanternas processionais feitas sob encomenda. A produção era vendida por “viajantes” que levavam as mercadorias para as festas religiosas ou vendida de porta em porta. Grande parte de cordões e medalhas eram vendidos no Jubileu do Bom Jesus de Matozinhos de Congonhas até os anos 1960. No século XX três nomes de oficinas se destacaram. Primeiramente foi a de José Bernardo de Santana, o Pinduca, de conhecida família de ourives e pedreiros do Alto de São Francisco. Pinduca abriu uma oficina com grande produção de obras de prata, empregando muitas pessoas, entre os anos 1940 e 1950, tendo arrebanhado razoável fortuna, que perdeu seja para os impostos, seja para o esbanjamento. Após falido, Pinduca foi morar no estado do Paraná, voltando para Tiradentes no fim de sua vida. Naquela época os ourives compravam os patacões de prata do império e os fundia transformando-os em barras de prata. Na sua volta trouxe alguns patacões. Conta-se que Pinduca chegou a fazer cigarro em notas de mil réis. Como ele mesmo me contou, era ele quem doava os caixões quando morria uma pessoa pobre. Certo dia ele mandou o caixão, um saco de pão e café para um velório, mas alta noite a viúva bateu na sua porta e disse “Senhor Pinduca o senhor já deu o caixão, o café e o pão, mas faltou a cachaça” ao que ele respondeu em sua típica expressão: “vai prá putipariu”. Contou-me com grande gargalhada. O segundo mais importante nome no ramo foi “Sô Chiquinho do Correio” ou Francisco Barbosa Junior que era filho e neto de ourives. Abriu uma oficina “de Ourives Santíssima Trindade” em 1954 nas dependências de sua casa e construiu a primeira loja do gênero, situada na Praça Benedito Valadares nº 40, telefone nº 8, loja ainda existente no atual Largo das Forras. Pela oficina do “Chiquinho do Correio”, passou não só seus filhos, mas também grande parte da massa trabalhadora de Tiradentes, sem contar as mulheres que “teciam” colares em casa, inclusive no Arraial do Bichinho (Vitoriano Veloso). Sô Chiquinho produziu muitos colares, pulseiras, brincos, medalhas, terços, rosas, laços, anéis, objetos de decoração e nunca deixou de produzir as alianças de noivado, em ouro. O terceiro mais importante nome no ramo foi Geraldo Conceição “O Mitula”, filho, neto e irmão de ourives, que nos anos de 1970 abriu uma grande “oficina-fábrica”, construída no Pacu, em substituição a oficina dos fundos de sua casa, na rua da Câmara, antiga rua Herculano Veloso nº 13, existente desde os anos 1950. Ao lado de sua casa “Mitula” mantinha uma loja “Oficina de Ourives São Judas Tadeu”, onde vendia a produção. A construção da oficina com grandes espaços de produção e introdução de máquinas modernas, fez do “Mitula” o maior empreendedor da cidade de Tiradentes e chegou a exportar bijuterias para França, Japão, Austrália, Estados Unidos e Panamá, segundo informa seu jornal “Prata Informativo” de novembro de 1974. O “Mitula” produziu grande quantidade de ramos de rosas decorativas, em alpaca, castiçais tipo rosa, terços de grandes contas, colares, pulseiras, cordões e anéis diversos. Além da oficina, da loja da rua da Câmara, do escritório da rua Bias Fortes, mantinha ainda um restaurante e lanchonete e um clube de lazer no Largo das Forras, hoje hotel Ponta do Morro. Infelizmente faliu e perdeu não só a oficina como todo o patrimônio imobiliário adquirido. Mas “Mitula é sempre lembrado como patrão justo, para todos seus empregados e durante muitos anos distribuiu carros cheios de brinquedos para as crianças pobres da cidade, na véspera do natal.

Neste ano que comemoramos os 300 anos de emancipação política da cidade de Tiradentes, poderíamos citar muitos ourives que conhecemos nesta já não tão curta vida, mas vamos apenas a alguns que se destacaram como o Chico Dâmaso que era especialista em fazer brincos de ouro de “cabacinha”, que todas as mulheres de Tiradentes usavam, além de alianças de casamento; o Laurito Cabral que foi empregado, e depois sócio do “Mitula” e teve sua própria oficina e loja com sucesso. Sua loja se chamava “São Benedito” e localizava-se na rua da Praia (Ministro Gabriel Passos). Outra figura muito querida era nosso amigo Zico (José Gomes de Matos) que ultimamente especializou-se em fazer “bingas”(isqueiros que tirava fogo de pedra) e isqueiros de querosene e rodinha. Zico era uma espécie de “factotum”, tudo era pedido a ele para fazer e consertar. Os filhos de Vicente Dâmaso, Antônio (Cavaco) e o Zé Damas foram cuidadosos artesãos, sendo que o Cavaco era perito em gravar letras e nomes.

Eram muito curiosas as pessoas que andavam pelas ruas fazendo cordões como o Tião da Antonieta, o Cara Preta, ou o Antônio Juanito (Antônio Faustino da Cruz) que passava todo o tempo fazendo colchete de alpaca para pulseiras e cordões. Lembro-me que fez para mim colchetes grandes, para prender no andor, as sanefas do Senhor dos Passos.

Ainda hoje sobrevive a oficina Casa da Prata que pertenceu a Marcos Barbosa, O Dinho, e hoje gerenciado por Rummenigge Zanola Schimidt e Rosemeire Zanola Babosa.

Hoje, mostrando esses instrumentos de trabalho e algumas peças, queremos homenagear todos os anônimos trabalhadores que nesses trezentos anos produziram obras de beleza e tradição artística, assim como os ourives nomeados e conhecidos da população tiradentina. 

Queremos agradecer aqui ao ourives Nilberto Barbosa, o Bebeto, pelo empréstimo das peças e preciosas informações; ao Rubens Lopes da Cruz pelo empréstimo do acervo de seu pai Benigno Lopes da Cruz; ao Luiz Cláudio José Cabral pelo empréstimo do acervo de seu pai Laurito Cabral; ao Edson Lopes dos Santos pelo empréstimo de acervo e ajuda na montagem da exposição; a amiga Vânia Lima Barbosa por todo apoio e colaboração; ao Gustavo Dias pelo empréstimo do acervo; a memória de José Gomes de Matos, Zico que me deu algumas peças; a família do “Pinduca” que também me deu algumas peças; a família de Eros Miguel Conceição pelo apoio e empréstimo do acervo e ao amigo Francisco José dos Santos, por alicates e chaveiros feitos por ele na oficina do “Mitula”. Agradeço também ao José Trindade da Costa pelo empréstimo de peças de seu acervo e a todos que contribuíram para essa pequena amostra da nossa memória recente.

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Texto feito para a exposição "Prata da Casa", de junho a julho de 2018, durante o Festival de Artes e Tradições de Tiradentes.


quinta-feira, 14 de março de 2019

Reflexos da arquitetura eclética na cidade de Tiradentes



Embora grande parte ou a maioria esmagadora das construções do núcleo histórico de Tiradentes date do século XVIII e XIX, algumas casas setecentistas ou oitocentistas passaram por reformas superficiais ou uma espécie de “maquilagem” para dar um ar mais atualizado as velhas construções. Em sua maioria acrescentou-se uma nova cimalha, sobrevergas alteadas, detalhes de “vistas” das ombreiras e vergas de janelas e portas em argamassa.

Na rua da Câmara podemos citar primeiramente a casa de José Batista de Carvalho - “Sô Zequinha” – que teve a reconstrução de uma cimalha perfilada de gosto eclético (n° 03), a casa de Regina Conceição (n° 16) que teve a altura da fachada aumentada, introdução de faixa decorativa acima das sobrevergas,  porta foi deslocada para a lateral e as quatro janelas da frente tiveram os aros substituídos por modelo mais verticalizado e com sobrevergas alteradas, com detalhe de argamassa. Possivelmente foi aumentado um vão. Hoje o telhado e fachada foram novamente rebaixados.
 





Ainda na mesma rua, (número 08), o caso mais radical é da casa de Joaquinzinho Ramalho, em que todos os aros de portas e janelas foram retirados e introduzidos guarnições internas, sendo a frente preenchidas com “vistas” de massa apresentando detalhes ecléticos. As folhas das portas e janelas foram substituídas por portas do tipo calha usual no século XIX e início do XX. Foi ainda introduzida uma cimalha perfilada, muito detalhada assim como os cunhais vazados. É curioso que a porta secundaria que dá para rua Padre Toledo continua original, de saia-camisa, com socos de pedra e portais maciços.




A casa de Vicente Guerra, (número 58), passou por reforma nos cunhais e a beira seveira foi substituída por uma cimalha perfilada. 




Na rua Direita, número 40 a casa, teve sua fachada reformada na década de 1910/20, mas manteve as janelas e portas antigas, só acrescentando sobrevergas alteadas e introduzindo cimalha perfilada de gosto eclético.


 
Em 1921, foi construída sobre alicerces antigos uma pequena oficina de ourives de Galdino Rocha, com fachada de gosto eclético, duas janelas frontais e entrada lateral. Tanto nos cunhais como nos embasamentos existem almofadas e molduras. As molduras das janelas descrevem losangos. O entablamento em cimalha e pequena moldura sustentam o frontão ou empena, com almofadas, círculo com monograma do proprietário (GR), terminado em curva decorado com três pinhas de cerâmica. É curioso que o telhado continuou em telha canal enquanto a cobertura do frontão é em telha marselhesa. Hoje o sentido da cumeeira foi invertido, ficando paralela a rua.



Ainda na rua Direita, o sobrado que pertenceu a Eloisa Hellow, teve o beiral decorado com lambrequins. Esta casa ruiu na década de 1950 e foi recentemente reconstruída, sendo hoje a Pousada Padre Toledo.




Na rua Padre Toledo, existe um sobrado colonial, de número 76 em que toda fachada foi refeita ao gosto eclético, inclusive com a introdução de um portão lateral de ferro. No térreo e três vãos com verga de volta inteira, com molduras de argamassa. Os vãos se repetem na parte superior com sacadas entaladas com gradil de ferro e uma cimalha muito detalhada coroa a fachada. Internamente manteve-se o aspecto colonial. Nas fachadas laterais foram abertos os vãos de ventilação e iluminação com verga em ângulo agudo, lembrando o neogótico. Esse sobrado que ultimamente pertenceu a Arquiconfraria da Santíssima Trindade era pintado em amarelo com relevos claros e após a última reforma foi pintado de rosa forte, um tanto destoante do conjunto. 




Ainda onde é a pousada Richard, número 124, existiu uma casa mais baixa e menor com entrada lateral e frontão triangular, com molduras de gosto eclético, demolida por volta de 1966, para dar lugar a construção de um pastiche de colonial com águas furtadas e janelões desproporcionais, tudo em cimento. A casa construída por Paulo Boujanic destoa do conjunto urbano, seja pelas águas furtadas, seja pelas proporções.




Em 1917 a Câmara Municipal de Tiradentes recebeu em doação de Policarpo Rocha, o prédio da casa do Padre Carlos Correia de Toledo Melo (1731/1803) e para lá transferiu a sede da Câmara e Agência Executiva, depois de 1930 a Prefeitura. Lá também se instalou um salão para festas, bailes, teatros e cinema. Nessa época a câmara promoveu uma reforma que na verdade reduziu-se ao sobrado (torreão) construindo um frontão eclético com beirais em lambrequins e agulha central. As janelas foram deslocadas para ficaram equidistantes e introduziu-se vidraças de abrir para fora, com vidros maiores semelhantes a Estação da Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM). Sobre as janelas do sobrado haviam sobrevergas alteadas, uma cimalhinha delimitando a empena e ao centro um círculo com as iniciais em massa CM (Câmara Municipal). Ainda foi aberto uma porta lateral e construída uma escada em tijoles queimados e cimento, com corrimão de ferro. A entrada da Câmara era independente do cineteatro, que se fazia pela porta original. Foi nesse momento que os paus-a-pique das paredes do sobrado foram substituídos por tijolos maciços e a parte inferior encamisada com os mesmos tijolos. No portão principal à direita foram colocadas compoteiras de cimento sobre os pilares. Sobre cada janela foi colocado um braço de latão com tulipa de vidro para iluminação externa, também foram abertas ventilações sobre o piso feitas com manilhas de cerâmica executadas na Cerâmica Progresso de Alberto Paolucci. O prédio foi pintado de cor próximo ao rosa, com os cunhais, aros das janelas e relevos em branco, para dá um aspecto eclético ao prédio. Em restauração feita pelo SPHAN, em 1944 o prédio voltou a sua feição original.

 



Voltando a rua da Câmara e Chafariz vamos ainda encontrar uma intervenção eclética na fachada do número 88, quando a porta principal foi levada para a lateral e as três janelas tiveram as ombreiras, vergas e peitoris substituídos por molduras de argamassa, com sobrevergas alteadas e construção de cimalha perfilada, obra feita entre 1910 e 1920. 



O número 54 da rua do Chafariz, de fronte para o Largo do Ó, uma casa colonial recebeu tratamento semelhante na fachada, agora com construção de platibanda almofadada e falsos portais de massa sobre os de pedra. Essa casa entrou em ruina e foi reconstruída a partir de croqui feito pelo arquiteto Sylvio de Vasconcellos (1916-1979), então Chefe do 3° Distrito do DPHAN em Minas Gerais e até hoje mantem a fachada fruto da reforma, com exceção das treliças introduzidas nos anos 1980.
 



Realmente construídos em estilo eclético foram o prédio da Estação da Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) em 1880/1881; o Chalé do Padre João Batista Fonseca, na atual rua Ministro Gabriel Passos (Praia) e a casa de Estevão Martins, na antiga rua do Areão, atual Inconfidentes n° X.

O chalé do Padre João Batista da Fonseca foi construído nos últimos anos do século XIX, em um grande terreno, “na praia”, antes logradouro público, as margens do Ribeiro Santo Antônio. A planta é simples, descrita em retângulo, com duas salas (visita e jantar) a direita e os quartos a esquerda, tendo aos fundos a cozinha e despensa. A fachada sobre embasamento alto apresenta quatro janelas verticalizadas com detalhes e molduras em argamassa, com vidraças de grandes caixilhos e um frontão triangular tendo no vértice e extremidades agulhas de cerâmica. A entrada se faz pela entrada lateral com degraus de cimento, hoje por pequeno alpendre. A cobertura em duas águas perpendicular à rua é feita com telhas do tipo marselhesa. Internamente a casa tinha assoalhos de pinho de Riga e barrado pintado em marmorizados. Hoje apresenta acréscimo posterior, além do referido alpendre. Havia ainda um velho portão de ferro batido assentado em pilastras de alvenaria e pequena ponte sobre um rego que passava próximo ao portão. O Padre Joao Batista da Fonseca, foi presidente da Câmara e agente executivo em Tiradentes por volta de 1915, quando se inaugurou o abastecimento de água canalizada na cidade; posteriormente foi capelão da ordem 3° do Carmo de São João Del Rei.


Outro exemplar sobrevivente data de 1925 e foi construído para residência do português Estevão Martins que aqui aportou nos anos de 1920, se casou deixando logo depois a família e retornando a Portugal, segundo dizem, por ter contraído muitas dívidas. A casa passou para domínio de um banco e pertenceu depois a Francisco Lucinda e a seu genro Pedro Ferreira Barbosa, atualmente propriedade de Vanilce Barbosa.



Fotografia de Estevão Martins, 1920, construtor da casa acima, acervo particular


Construída com planta em retângulo perpendicular à rua, assim como a cumeeira sendo a cozinha em corpo anexo, mais baixo. A cobertura em duas águas é de telha do tipo marselhesa, com beirais em ponta de caibros e proteção em tábuas. A entrada se faz por porta lateral acessada por três degraus de cimento em semi-circulo. As janelas laterais verticalizadas perderam-se todas. O que se mantem integro é a fachada com embasamento alto chapiscado, com aberturas de ventilação gradeadas. Dois Cunhais em relevo sustentam a cimalha perfilada, que enquadra quatro janelas verticalizadas, com folhas de calha e caixilhos de guilhotina. As molduras das janelas são de argamassa, com sobrevergas alteadas sobre pequenas mísulas ou modilhões fitomorfos. Sob as janelas aparecem almofadas com as quinas quebradas em quarto de círculo. Sobre a cimalha apoia-se o frontão ou empena curva tripartida decorada com molduras e a coberta de telhas capa e canal, tendo nas extremidades duas pinhas de cerâmica. Ao centro havia uma águia, hoje desaparecida. Ainda no frontão aparecem relevos de balaustres na parte inferior e ao centro com um brasão de armas da república brasileira (estrela com círculo azul ladeadas por ramos de café e fumo. Aos lados equidistantes, aparecem as iniciais do construtor E.M. (Estevão Martins) e a data de 1925.

Originalmente havia um portão de ferro lateral, com as mesmas iniciais na parte posterior, assentado em pilastras com dois leõezinhos de cerâmica e a direita um falso portão em cujas colunas haviam pinhas. O interior era assoalhado de tabuas estreitas (20 ou 25cm) e no hall de entrada, sala frontal e quartos havia uma barrado pintado à imitação de mármores coloridos com desenhos de almofadas.
Hoje a casa acaba de passar por restauração e adaptação para comercio, após longo período de degradação.

Na mesma rua, logo abaixo, no caminho da estação existiu até a década de 1980 a casa de Francisco Ferreira de Morais, o Chico do Cesáreo e de Jeny Morais Batista, onde havia armazém de secos e molhados e casa de vivenda. Esta construção tinha duas portas na frente e uma janela. A entrada da residência fazia-se pela lateral, através de um alpendre com pinturas de paisagem na parede. A janela dava para sala de visitas e as portas para a varanda. A empena da fachada tinha recortes, relevos e almofadas e terminava em curvas com três pinhas de cerâmica. A esquerda ficava o armazém ou deposito de gêneros alimentícios, com telhado paralelo a rua e janelas tradicionais. Tratava-se de uma casa antiga, possivelmente do século XIX que teve a fachada reformada ao gosto dos anos 1920.

A Estação da Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) foi construída por volta de 1880, sendo inaugurada em 28 de agosto de 1881. A edificação original era menor que a atual, pois só existia o antigo armazém e a agência que hoje fica no centro do prédio. Os dois cômodos à direita parecem que foram acrescidos ainda no século XIX e a área de cozinha e dispensa (hoje banheiros) já no século XX. O prédio segue o mesmo estilo das estações com telhado em duas águas com telhas francesas, duas empenas com óculo e cimalhas. Os beirais todos contornados por lambrequins de madeira recortada, hoje em parte perdido. O embasamento em pedra é alto devido as enchentes do Rio das Mortes. Portas e janelas são do tipo calha, com caixilhos de grandes vidros, com molduras de massa no terço superior. Há barrado de chapisco voltado para a plataforma. Esta é acoplada a casa com piso de cimento liso, estrutura de trilhos, telhado em duas águas, originalmente de telhas de barro francesas, hoje substituído por telhas vermelhas de amianto em losangos imitando telhado de ardósia. Um jardim típico dos anos 1920 foi acrescido ao conjunto. A arquitetura das estações influenciou sobremaneira as reformas e novas construções, com empenas voltadas para a rua, molduras de massa nas portas e janelas e lambrequins nos beirais.
 




Estação de Tiradentes foto de 1920, ainda com os lambrequins na empena do telhado principal


No Largo das Forras existiu uma curiosa construção dos anos 1920/1930 em terreno originalmente logradouro público, onde hoje é a Pousada do Largo, n° 48. A casa tinha um curioso jogo de águas de telhado e portas e janelas em arco pleno. Inicialmente propriedade de Francisco Araújo Lima, depois Domingos Longatti e ultimamente passou à Lourenço Firmino de Campos quando foi reformada e o telhado foi refeito em duas águas. Mas de qualquer maneira a construção tinha influência do ecletismo.



Entre 1938 e 1942 foi construída uma casa de Teófilo Reis na atual Rua dos Inconfidentes n° 211 cuja fachada de influência eclética e de gosto popular foi pintada de verde e amarelo como a bandeira do Brasil. Duas janelas com molduras de massa e caixilhos de grandes vidros preenchem a frente. A porta de entrada é lateral precedida de alpendre.



Sob as janelas há uma grande almofada de massa. Dois cunhais sustentam uma cimalha estreita perfilada e frontão em dois semicírculos com relevos de leques encimados por agulhas de cerâmica. No centro do frontão há uma peanha e coifa metálica onde havia a figura de cerâmica de um índio ligado a Umbanda e sobre a entrada do alpendre nicho com as figuras de Pai João e Mãe Maria, também da Umbanda. As iniciais do proprietário e as datas estão em relevo no frontão, como divisa “Vila fé em Deus”. Esta casa de gosto popular se manteve integra externamente, com exceção das figuras de umbanda, desaparecidas.

Sobrevive ainda na rua Antônio Teixeira de Carvalho n° 113 a casa construída por Joao Gonçalves de Moura, nos anos 1930, do tipo bangalô, com empena simples, alpendre embutido no corpo da construção.O muro baixo com faixas em relevo dão charme a construção, com pequeno jardim à entrada.



Na cidade não existe e parece que não existiu construções de gasto “art décor” com exceção de duas sepulturas no cemitério da Matriz, da família de José Cândido da Silva. Houve ainda um pequeno portão de ferro n primeira casa da Rua Silvio de Vasconsellos, pertencente ao Antônio Gonzaga Teixeira (o Canarinho) hoje de Eros Grau. O portão foi retirado e está desaparecido.

 



Um curioso exemplar de arquitetura popular modernista sobrevive na rua dos Inconfidentes n° 317, de Nilber Barbosa. A fachada com colunas copiadas dos palácios de Brasília, grandes panos de vidro e telhado de laje plana, com platibanda em ângulo central que remete a linguagem modernista e incorpora revestimento em pedra da Serra de São José, muito usada nos anos 1960 e 1970, para revestimento decorativo.

Fora do núcleo urbano podemos citar a estação de trem de Cezar de Pina e as casinhas adjacentes, a primeira construída em 1923, no eclético típico das estações. Existiu ainda a bela estaçãozinha de Águas Santas, demolida em 1966, que tinha empenas de ferro ou madeira recortada e paredes de “enxaimel”.
  








 
No mesmo povoado de Águas Santas duas construções de apuro ligam-se ao ecletismo: a capela de Nossa Senhora da Saúde inaugurada em 1915 e o prédio do balneário construído por volta de 1908/1910, com portadas em arcos de volta inteira. A capela está totalmente descaracterizada e o balneário foi demolido para construção de novo prédio na década de 1960.

 



Ainda na região da “Caixa d’água da Esperança” pode-se ver ainda a casa de David Silveira, com frontão eclético e cimalhas perfiladas. Ainda nessa região existiu o chalé da Baronesa de Santa Maria ou fazenda da Esperança, construído por volta de 1860/70 em estilo neoclássico/eclético, com fachada apresentando frontão triangular, três ou quatro janelas rasgadas com sacada entalada, entradas laterais com escadas de pedra e gradil de ferro. O embasamento era alto e casa possuía um pátio interno, do tipo jardim de inverno. Infelizmente a casa foi demolida no início da década 1980 e o material vendido, sobrevivendo apenas os alicerces. Enfim há ainda alguns exemplos de inicio do século XX, tanto nas Águas Santas quanto na zona rural do município.



A Caixa d’Água e o Chalé da Baronesa

Estrada da Caixa D'água, antigo leito da Estrada de Ferro, com a Capela de N. Fátima, construída no final do séc. XX essa e as demai...