segunda-feira, 15 de julho de 2019

Um sábio de Minas


Texto: Olinto Rodrigues dos Santos Filho*

 José Veloso Xavier nasceu em outubro de 1741 na antiga vila de São José, atual cidade de Tiradentes, em Minas Gerais. Era filho de José Veloso do Carmo, português de Braga, e Catarina de Jesus Xavier, natural da vila de São José. Era primo do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, e do padre Antônio Rodrigues Dantas, autor da famosa Explicação da Sintaxe, publicada em Lisboa no ano de 1775 e várias vezes reeditada. Entrou para a ordem franciscana em 1761, onde adotou o nome de José Mariano da Conceição, e estudou no Convento de São Boaventura de Macacu, hoje em ruínas, no município de Itaboaraí (RJ).

Em sua vida religiosa, ordenado em 1766, logo em 68 foi nomeado pregador. Transferido depois para a aldeia indígena de São Paulo (São Miguel), desenvolveu trabalho de pregação e conversão dos gentios, tendo ainda regido as cadeiras de Geometria (1771) e Retórica (1779) do Convento da cidade de São Paulo.

Durante sua estada em São Paulo iniciou estudos da flora local com tanto interesse e competência que chegou aos ouvidos do Vice-Rei Luiz de Vasconcellos e Souza, que mandou vir Frei Veloso para o Rio. Sediado no Convento do Largo da Carioca, o Frei teve licença para fazer excursões científicas pelo Estado do Rio, coletando e classificando as plantas daquela região, sob os auspícios do Vice-Rei.

Ao fim de cerca de nove anos de trabalho Frei Veloso apresentou ao seu protetor a obra concluída, a Flora Fluminensis, com cerca de 1600 plantas classificadas e desenhadas por Frei Solano, no ano de 1790. por esta importante obra é hoje conhecido como “Pai da Botânica no Brasil”. Regressando D. Luiz para a Corte, leva Frei Veloso com sua obra e seus desenhos, que seriam enviados à Itália para abrir as chapas. Em Portugal, o sábio mineiro dedica-se de corpo e alma a uma importante empreitada de editar obras úteis à agricultura e indústria agrícola no Brasil, as quais denominou O Fazendeiro do Brasil.

Publicou dez volumes em editoras diversas de Lisboa, tendo posteriormente, ainda sob a égide de D. Luiz de Vasconcellos, fundado e dirigido a tipografia do Arco do Cego, localizada em uma quinta naquele bairro, onde juntou um grupo de jovens brasileiros ilustrados para traduzir e editar obras de interesse para sua pátria. Deste grupo contavam Nogueira da Gama, padre Viegas de Menezes, Antônio Carlos e Martim Francisco de Andrada e Silva, Hipólito José da Costa, José Feliciano Fernandes Pinheiro, Vicente Seabra Silva Teles, José Ferreira da Silva, João Manso Pereira, Manoel Arruda Câmara e Manoel Rodrigues da Costa.

 O Arco do Cego foi responsável pela introdução da moderna tipografia em Portugal, tendo inclusive oficina de gravura com aprendizes e fundição de tipos em anexo. Um dos ilustres trabalhadores da editora foi o poeta Manoel Maria Barbosa Du Bocage. Extinta a tipografia do Arco do Cego, Veloso passa para a Imprensa Régia, até que as invasões napoleônicas o fazem retornar ao Brasil e desviam para a França as pranchas já prontas da Flora Fluminensis. Sua maior obra fica, então sem editar.

Após sua morte, ocorrida no Convento de Santo Antônio, no largo da Carioca, Rio de Janeiro, o Imperador D. Pedro I mandou editar em 1825 a Flora Fluminensis, impressa na Imprensa Régia e com litografias encomendadas em Paris. Os exemplares editados ficaram depositados na Academia de Belas Artes, onde foram quase totalmente destruídos pelos alunos daquela instituição. A coleção completa da Flora Fluminensis é hoje considerada uma raridade bibliográfica.

Quando se completam 200 anos do falecimento deste homem de excepcional espírito científico, a cidade de Tiradentes, que foi seu berço natal, através do Instituto Histórico Geográfico, o homenageia.


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*Sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes


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